Homilia Pe. Toninho - 08 e 09/05/2021

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    Neste dia em que celebramos as mães, por uma feliz coincidência, a liturgia nos fala do amor, do qual o delas é um exemplo muito forte.

    Na primeira leitura, vemos que o amor não conhece barreiras. Temos aí narrado o chamado "pentecostes dos pagãos", isto é, a vinda do Espírito Santo sobre esses, antes mesmo de serem batizados. Este fato obrigou Pedro a rever os seus conceitos e a quebrar a barreira religiosa, que opunha "pagãos" e "judeus" (v. 47-48), pois estes últimos se julgavam os únicos destinatários do amor de Deus.
    Como é difícil quebrar barreiras religiosas! As primeiras comunidades enfrentaram esta problemática. As leituras da liturgia diária destas duas últimas semanas mostraram seu lento amadurecimento, com o embate entre duas tendências. De um lado, os que achavam que os pagãos teriam que, antes de tudo, observarem a lei judaica, para, depois, serem batizados. De outro lado, Paulo e Barnabé, se contrapondo a isso, dizendo que bastava crer em Jesus para ser batizado, não tendo necessidade de se "virar" judeu primeiro. Ainda em nossos dias, esta barreira impede a vivência sadia do amor na comunidade, pois há aqueles que se julgam melhores, mais santos, justos e perfeitos que os outros, de modo que essa arrogância espiritual os leva a olharem algumas pessoas de forma discriminatória.

    A segunda leitura repete, nove vezes, a palavra "amor", em apenas três versículos. De fato, tocamos aqui no que é essencial ao cristianismo. Ademais, temos a mais bela definição de Deus, ao afirmar que "Deus é amor" e que seu amor por nós foi gratuito (v 8-10). Utiliza-se a expressão grega "ágape", para significar este amor, que é um tipo de amor à semelhança do divino, que vem de cima para baixo, para ir ao encontro do outro. Por isso, a leitura diz que "amor (àgape) vem de Deus". Em grego, temos, ainda, a expressão "eros", para significar o amor entre o homem e a mulher, um amor ascendente, que leva ao êxtase, mas tem um caráter mais particular e possessivo. A Sagrada Escritura utiliza a expressão "eros" somente duas vezes no Antigo Testamento e nunca no Novo Testamento, onde aparece somente a expressão "ágape", como nesta leitura. Muitas vezes Deus foi definido, em sentido filosófico e teológico, como "Ser onipotente", "Espírito perfeito" e outros. Quando ouvimos que "Deus é amor" e afirmamos que nós somos sua imagem e semelhança, isto significa que nossa identidade espiritual se define à partir do amor.
    Quem ama é filho e filha de Deus. O Papa emérito Bento XVI afirma na Encíclica Caritas in Veritate que "o amor é divino, porque vem de Deus e nos une a Deus". As divindades pagãs eram entendidas, na antiguidade pagã, como terríveis, de forma que eram necessários sacrifícios, até mesmo humanos, para apaziguar a sua ira e conseguir os seus benefícios.

    No Evangelho de hoje, Jesus diz que não considera seus discípulos como "servos", mas como "amigos", amizade, que em grego é "philia". Essa palavra designa o amor entre os amigos, uma forma de amor perfeita, porque não se baseia nem nos interesses, nem na utilidade, mas na doação recíproca, um amor entre iguais.
    Ainda no Evangelho de hoje, Jesus deixa um único mandamento a seus discípulos. Assim, não há mais necessidade de uma lista de mandamentos, preceitos, normas e proibições. O seu mandamento é que nos amemos uns aos outros, como Ele nos amou (v. 12). Desta maneira, nosso amor humano tem uma referência, que é o amor de Jesus, o jeito pelo qual Ele nos amou e que foi "dando a vida". Aqui temos o amor-ágape, em sentido descendente, divino, de se abaixar em direção ao outro.
    Mas o que significa "dar a vida"? Facilmente relacionamos o acontecido na sexta-feira santa às 15h, como sendo o momento em que Jesus "deu a vida por nós". Pensando assim, fica desmerecida sua proximidade com os pobres e doentes, sua pregação e sua mensagem, a sua vida em geral. Não podemos reduzir, portanto, a doação da vida de Jesus, somente ao sacrifício do calvário, pois toda sua vida foi doação e entrega. Se Pilatos o tivesse inocentado e libertado e Ele tivesse morrido de idade, poderíamos dizer do mesmo modo: "Jesus deu sua vida por nós."
    O Papa emérito Bento XVI, na Encíclica Caritas in Veritate, afirma que o amor "não é apenas um sentimento, pois os sentimento vão e vêm. O sentimento pode ser uma maravilhosa centelha inicial, mas não é a totalidade do amor.". Neste sentido, o amor da mãe é um exemplo: dar a vida no gerar e, depois, nos cuidar. Por isso, todos somos chamados a "dar a vida", pois não há amor maior, que doar a vida pelo irmão.

    Enfim, queremos, neste domingo, ater-nos ao fundamental de nossa fé. A Igrej "não pode descurar o serviço da caridade (ágape), tal como não pode negligenciar os Sacramentos, nem a Palavra", afirma o Papa emérito Bento XVI. No fim de tudo, só amor ficará e seremos julgados com base nele e a partir dele.

    Padre Toninho

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